sábado, 29 de junho de 2019

Do estado de espírito


Houve uma altura da minha vida em que eu simplesmente não me pesava. Não queria saber do peso, não me importava se comia mcdonalds 4 vezes por semana e mais porcarias no resto do tempo.

Houve uma altura da minha vida em que eu parei e me pesei. E assustei-me de tal modo que decidi mudar radicalmente de vida.

Começou uma vida de dieta, restrição e tormento da balança.

Houve alturas em que me pesava uma vez por semana ao sábado de manhã depois de uma semana de dieta rigorosa. Como só me ia pesar no sábado seguinte, o fim de semana era de abuso total, para voltar à restrição a cada 2a feira...

Houve alturas em que me pesava todos os dias "só para ver", de manhã e à noite, para "saber" como me tinha portado. Se o resultado tivesse sido bom, recompensava-me com um chocolatinho. Se tivesse sido mau, castigava-me mentalmente e culpava-me, o que muitas vezes levava a uma compulsão e comia à mesma o chocolate muitas vezes em maior quantidade...

Houve alturas em que comia essencialmente sopa ao almoço, restringia a comida "má" e odiava-me quando caía em tentação.

Até que chegou uma altura (há pouco mais de um ano) em que estava psicologicamente exausta deste bullying que me infligia a mim própria e para bem da minha saúde mental deixei as dietas, deixei as restrições, deixei o policiamento da balança e comecei só a viver com base na minha intuição. Foi como se tivesse tirado a rede de segurança por baixo de mim e tivesse só de passar a contar com o meu bom senso para manter o equilíbrio.

Obviamente engordei! Tinha passado uma década e meia a restringir e agora se eu dava liberdade ao meu corpo de fazer a escolha que ele quisesse, obviamente que os desejos seriam do que eu não lhe queria dar antes.

Mas...

A liberdade na cabeça é incrivel. Só por isso vale a pena. O facto de eu olhar no espelho e não odiar automaticamente o meu corpo, de me focar na beleza dele e não somente nos defeitos é libertador.

Às vezes sinto que perdi tanto tempo a odiar-me quando simplesmente poderia aceitar-me e sinto uma profunda tristeza por isso. Eu fui tão burra. Mas pronto, calculo que deva ter sido a curva de aprendizagem que eu tive mesmo de seguir para chegar onde estou agora.

Tudo isto para dizer que hoje voltei a pesar-me.

Tinha me pesado no início do mês e tinha decidido voltar a tentar perder algum peso, mas para me sentir melhor, com mais agilidade, já que me estava a sentir um pouco presa e limitada. Muito longe da mentalidade anterior de perder peso para ficar dentro do padrão que a sociedade definiu como standard mascarado de saudável.

Desta vez sem o tormento da balança, desta vez sem restrições, desta vez só a escutar o meu corpo e a balancear as refeições, o exercício, a hidratação e sobretudo o meu bem estar mental.

Portanto, pesei-me e, só a apostar no meu bem estar, perdi 1,3Kg.

Isto deixa-me feliz, não tanto pela perda de peso, mas porque significa que o meu corpo voltou a confiar em mim e sinto que já não me pede tanto aquelas comidas que eu antes lhe proibia. Ele agora tanto me pede um doce (normalmente um pouco de chocolate resolve o assunto) como me pede saladas e almoços semi-vegetarianos.

Eu sinto que cada vez posso confiar mais nele e finalmente agora estou pronta a encontrar o meu ponto de equilibrio que tanto buscava.

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