terça-feira, 27 de outubro de 2020

Never have I ever


 
Nunca na vida tinha tido coragem de andar com unhas pintadas de cor forte. Só ao fim de 44 anos é que senti que as minhas micro-unhas também tinham direito a ser mimadas apesar de não serem aquelas unhas longas e elegantes que fazem uma mão bonita e me rendi à manicure profissional. São pequeninas, mas são as minhas. A partir do momento em que as aceitei precisamente como elas são e me convenci que também elas podem ser belas, passei a cuidar muito melhor delas. 

Este é provavelmente a maior simbologia da minha auto-aceitação. Afinal, ser fora do padrão pode ser o meu maior atributo e não o meu pior defeito.

Nunca na vida tinha tido coragem de usar a minha camisola básica e justa sem algo a tapá-la. Nunca me tinha atrevido a mostrar os pneuzinhos que esta camisola, que me acompanha seguramente há uns 20 anos, não consegue esconder. Hoje foi o dia, porque realmente eu sinto-me bem com ela (pneuzinhos incluídos) e muito sinceramente a opinião dos outros deixou de me interessar. A isto chama-se confiança.

Nunca na vida usei uma saia no emprego. Aliás, tirando os vestidinhos de verão, nem sequer tenho uma única saia. Ainda não foi hoje, mas estas calças largas mega confortáveis são um passo de gigante nessa direção. Também nunca na vida me tinha atrevido a chamar a atenção para a parte inferior do meu corpo com as cores mais vivas. Normalmente uso calças de ganga ou pretas e avivo o visual com camisolas de padrões. Inverter esta tendência é uma novidade para mim. Aliás, tentar adivinhar o que os outros pensam ao olhar para mim, se é que pensam alguma coisa de todo, deixou de estar na minha lista de preocupações.

Abraçar-me a mim própria como um todo tem sido uma lufada de ar fresco na minha vida, porque o meu corpo é provavelmente a coisa menos interessante em mim.

domingo, 18 de outubro de 2020

Tem dias


Há dias em que sinto que não estou empenhada a 100% nisto do body positivity.

Há dias em que penso que seria tão mais confortável embarcar em mais uma dieta. É difícil ver o meu corpo a mudar, a voltar à estaca zero. 

Há dias em que sinto falta da sensação de falso controlo que a dieta me transmite. Sinto falta do objetivo, daquela adrenalina quando um dia corre na perfeição.

Nunca sentirei falta da sensação de fracasso quando a dieta empanca ou quando invariavelmente deixa de funcionar. E muito menos falta sentirei da sensação de falhanço ao olhar pela quinta vez para o número da balança sempre despida de qualquer acessório que acrescente 10 gramas sequer.

Há dias em que me sinto poderosa, levanto a cabeça bem alto e caminho com segurança no andar e de sorriso no rosto. 

E depois há dias em que me questiono se terei tomado a decisão certa e sinto-me só desleixada. 

Porque eu sinto que ainda não soltei as amarras completamente. Adoro a liberdade que o self-love, a self-acceptance e o body positivity me dão, mas lá no fundo eu ainda quero ter um corpo mais pequeno. Não para me encaixar mais em algum padrão, mas porque as pernas começam a queixar-se e eu lá no fundo tenho medo que os quilinhos a mais acabem mesmo por ser prejudiciais à minha saúde no futuro.

Eu não quero embarcar em dietas e obsessões de números, mas quero retirar alguma gordura do meu corpo. As pernas e os pés começam a ressentir-se e penso que isso seja ele a chamar-me à razão.

Gostava que ele encolhesse um pouco, não posso mentir, mas sem ponta de obsessão, sem ponta de sacrifício, só a ouvi-lo, a nutri-lo, a move-lo como ele merece.

Não quero voltar à never-ending story das dietas de A a Z, mas também não quero continuar a crescer mais e mais. É um equilíbrio muito fino e que vou ter de encontrar para bem da minha saúde física e mental.