domingo, 21 de fevereiro de 2021

Do desperdício e da falta de

 


Não posso deixar me me achar afortunada por passar estes largos meses em casa parcialmente. Faço a minha parte, a minha família também e esperamos por melhores dias.

Mas há dias em que me sinto farta de tudo isto. 

Sinto que este tempo precioso que passo em casa é constantemente desperdiçado. Se antes dizia à boca cheia "ah não faço exercício/meditação/yoga/ler/refeições mais elaboradas porque não tenho tempo", pois que agora tenho tempo e continuo a não o fazer. Ao fim de quase um ano desta slow-living forçada, sinto que desperdicei o que de mais importante tenho: o meu tempo.

Parece que passo o meu tempo a cozinhar ou a pensar em comida, a trabalhar ou simplesmente no sofá a ver séries repetidas ou a fazer scroll no telemóvel. Num rame-rame constante. Quando podia aproveitar este tempo precioso para fazer coisas boas por mim que habitualmente na realidade não tenho tempo. Tempo agora tenho, mas a nuvem negra que paira o dia inteiro sobre todos, parece que me suga a vontade de fazer seja o que for. 

E sinto falta da minha liberdade. Sinto falta da beira-mar, da maresia, da areia fria e das águas gélidas nos pés descalços. Sinto falta de jantar com os meus pais. Sinto falta de ir ao shopping. Sinto falta de querer uma coisa ir dar ali um saltinho a comprar. Sinto falta de planear um fim de semana fora. Sinto falta de ir fazer uma caminhada longe de casa.

Estou farta de ser prisioneira, quando eu devia era dar graças de poder estar protegida nesta bela prisão que é a minha casa. Devia estar agradecida por o inimigo ainda não nos ter batido à porta nem à dos nossos.

Hoje fomos os quatro fazer uma caminhada: ela, ele, eu e minha enorme neura. Cheguei a casa, meti-me no banho e solucei uns bons minutos sozinha. A neura acalmou, mas sinto-me farta à mesma. Farta de não ter a minha liberdade e farta de não aproveitar a sorte que a slow-living me trouxe. 

Amanhã o dia será melhor.