domingo, 19 de julho de 2020

É disto mesmo que eu sinto falta


Não sinto falta das restrições, nem do ódio por mim e muito menos das desilusões na balança no final da semana.

Mas sinto falta da sensação segura de ter um objetivo. Do planeamento e do sentimento de dever cumprido. Sinto a falta disso.

Ontem foi um daqueles dias em que me sentia gorda (ainda há dias desses em que isso me afeta) e, num instante de sinceridade crua disparei para a minha filha:

- Que pernas tão gordas eu tenho...
- Se não te sentes bem, faz alguma coisa!
- Gostavas mais de mim se eu fosse mais magra?
- Não! Tu és muito mais do que isso. Aliás gosto mais de ti agora do que quando eras mais magra, és mais feliz agora.

E eu fiquei embevecida a olhar para ela. Eu sei que nem sequer deveria ter feito esta pergunta, até porque já sabia a resposta, mas saiu-me, pronto. E ela continuou:

- O nosso problema é que nós decidimos que vamos fazer coisas, fazemos duas vezes e desistimos. Por exemplo as segundas-feiras vegetarianas, as caminhadas, o levantar cedo ao sábado para caminhar na praia...

E ela tem razão. Desistimos ao fim de poucas vezes e eu culpo-me por isso. Afinal as refeições são por minha conta e acordá-los ao sábado também. É a minha veia sabotadora a funcionar desde sempre.

Desde o início do confinamento, já lá vão 4 meses, deixei de fazer o planeamento das refeições, porque estou maioritariamente em casa e baldo-me mais. Há mais refeições do desenrasca e mais frango no churrasco com batata frita.

As caminhadas também são facilmente sabotáveis com o "hoje não que estou cansada", ou o "hoje não que está calor" ou o "hoje não que está vento" ou mesmo o "vamos amanhã" e assim se vai marcando mais o nosso rabo no sofá e empurrando com a barriga um hábito saudável tanto para o corpo, como para a mente e até para o nosso relacionamento familiar.

E pronto. Mais uma lição que recebi desta pirralha que me conhece melhor do que ninguém neste mundo.

Resultado:

- Vou voltar ao planeamento das refeições semanais incluindo as segundas vegetarianas, as quintas de peixe e as sextas de sopa.

- Vamos voltar às caminhadas ao fim do dias e aos sábados de manhã à beira mar

- E já agora, voltar a beber 1,5l de água por dia fora das refeições em vez de aldrabar à farta.

Quem sabe se estes objetivos são suficientes para me trazer aquele gostinho bom de dever cumprido sem o gosto amargo que uma dieta invariavelmente traz.