quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Do outro tipo de leveza


Houve uma altura da minha vida em que eu tinha medo de me pesar. Era novinha, alimentação saudável eram duas palavras que não caminhavam juntas no meu vocabulário e eu comia mesmo muita porcaria. Tinha medo que aquele objeto inerte tão poderoso me fosse gritar um número astronómico que eu não queria conhecer.

Até que subi em cima dela, odiei o grito que ela deu e resolvi dedicar a minha vida a subtrair dígitos àquele número hediondo.

Ela era o centro do meu mundo. Era a pensar nela que eu recusava os meus amados docinhos e que me entupia de legumes deslavados, mas saudáveis. Era ela que de manhã determinava se naquele dia eu tinha permissão para me sentir orgulhosa de mim ou se pelo contrário, devia sentir-me uma fraude por não ter conseguido reduzir uns gramas a este corpo parvo, porque eu teimava em reduzi-lo a um tamanho onde ele não se sentia confortável.

Ela dominava o meu mundo. Muitas vezes gritava-me mais do que uma vez por dia. Eu estava completamente dominada por aquele objeto estupidificante.

Foram várias as vezes que a tirei literalmente de casa para não ceder ao fascínio de ir mais uma vez medir o meu valor nela. Tomar a decisão de me afastar dela e realmente manter-me afastada foi das coisas mais difíceis que fiz neste processo.

O meu medo era só voltar a ser a pessoa descontrolada que fui na adolescência e que só a balança me iria conseguir policiar.

Só que não.

Deixei de me pesar regularmente há cerca de meio ano. Neste período cedi à tentação duas vezes e sinceramente agora não acho que acrescente nada à minha vida.

A Sweet dos 40 não tem nada a ver com a Sweet dos 20. A dos 20 temia o número da balança, a dos 40 está-se nas tintas para o número da balança. Ela já não mede o meu valor, porque eu sou um todo, um conjunto de coisas boas e menos boas e não somente um corpo que ocupa mais ou menos espaço no mundo.

Quando me afastei dela e me dei permissão para deixar de rotular os alimentos como bons e maus (leia-se saudáveis e não saudáveis) e passar a olhar para todos simplesmente como alimentos, sem restrições, confesso que o meu corpo desejou os menos saudáveis durante uns tempos. Isto porque eu passei tanto tempo a restringi-los que ele quis aproveitar enquanto podia. Só que agora o meu corpo já percebeu que pode sempre e por isso é que a caixa de Ferreros que comprei na segunda feira ainda está intacta, porque sabendo que posso comer sempre que me apetecer, acaba simplesmente por não me apetecer. E se hoje me apetece almoçar uma sopinha, vou fazê-lo com prazer e não como obrigação. E o mais engraçado é que sinto mesmo o meu corpo a balancear as coisas, noto que estou a comer em menor quantidade e maior variedade do que antes.

E é este o tipo de leveza que o body positivity me trouxe: a liberdade!

O facto de deixar de lutar com o meu corpo e ter a minha mente e o meu corpo a fazerem as pazes e a deixarem de puxar a corda um para cada lado, numa luta permanente.

O facto de me sentir bem comigo mesma sem ligar aos estereótipos impostos pela gigante indústria da beleza.

Não tenho uma barriga lisinha, mas tenho uma curvinha fofinha e gosto dela. Ela conta a mais bonita história de amor de sempre, a do nascimento da minha filhota. Todas as minhas estrias e os meus pneuzinhos contam a minha história, só me posso orgulhar dela.

9 comentários:

  1. Também fui uma adolescente controladora do peso. A mim ditava a balança e as calorias!

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  2. Aplausos para essa postura, a sério :) deves sentir-te orgulhosa de ti própria.

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  3. sempre fui muito obcecada com o peso. a minha mae é muito controladora nisso e na comida e quando era criança nao podia comer tudo, nem comer doces. e nao sei se alguma vez vou ser capaz de me libertar dessa mentalidade.


    TheNotSoGirlyGirl // Instagram // Facebook

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  4. Sem dúvida que a Palavra Liberdade diz tudo.
    O resto só com o tempo... sem dúvida que amadurecermos faz-nos ver as coisas e a vida de outra maneira e com outros olhos :)

    XoXo
    - Helena Primeira
    - Helena Primeira Youtube
    - Primeira Panos

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  5. pS: Queria só dizer, que também sempre lutei com o peso, com a balança e com a maldade das pessoas. Mas no meu caso, era a luta para engordar.

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  6. Acredito que com o tempo aprendemos que somos muito mais do que um peso, umas maminhas, um rabo. É tão importante isso.

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  7. Eu ainda luto com o peso, mas já retirei a balança da equação, vou sentindo pela roupa :-( que é altura de parar.

    Sentir-nos bem com o nosso corpo é a única coisa que precisamos, chegar a meta de vestir a roupa que gostamos ou de ter energia para pular no parque é tudo o que queremos!!!

    Gostei muito da honestidade!
    Bjs

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  8. Fico muito, mas mesmo muito contente que se tenha conseguido soltar dessas correntes.
    Nada melhor que a nossa liberdade, que a nossa vontade.
    Parabéns por isso!
    https://jusajublog.blogspot.com/

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