quinta-feira, 23 de abril de 2020

Quarenta dias de quarentena


Passaram-se quarenta dias desde o fim do mundo como sempre o conhecemos.

Desculpem lá o pessimismo, mas acho que nunca mais a vida e as relações sociais vão ser como dantes. Primeiro será por medo e depois por hábito. Acredito que a distância individual veio para ficar.

São já quarentena dias de poucos afetos dos mais próximos e mesmo nenhuns de fora da nossa bolha.

São conversas a mais por telefone e a menos presencialmente. Até porque chega a um ponto em que dói menos o telefonema do que o olhar à distância sem poder abraçar ou tocar, ou o simples beijinho da praxe.

São quarenta dias quase 24/7 com a minha filha, mas com muito poucos stresses. Damo-nos bem e respeitamos o tempo uma da outra. Com o hubby, como ele tem passado grande parte dos dias no armazém, os dias acabam por ser mais normais.

São quarenta dias num ritmo mais lento. Contam-se pelos dedos das mãos as vezes que saí de casa para ir trabalhar e o simples pensamento de que isso possa estar a terminar deixa-me numa pilha de nervos. A prova disso é que são 3:20 da manhã e o sono não vem.

Esta incerteza mata qualquer um aos poucos. Gostava de pertencer àquele grupo de pessoas do "depois logo se vê", mas infelizmente faço parte da equipa dos "sofredores por antecipação" e para nós, a incerteza é o maior veneno.

É provavel que o mês de maio vá ser de uma quinzena de férias obrigatórias na empresa, que de férias não vai ter nada porque o hubby vai estar a trabalhar e a filhota com aulas online de manhã e trabalhos de tarde. E convenhamos, estar fechada em casa não é o meu conceito de férias. Mas é um sacrifício que nos foi pedido para evitar o lay-off e não vou ser eu a ovelha ranhosa a por problemas. Uma coisa é garantida: 15 dias de férias em agosto ninguém me tira e se tudo corresse maravilhosamente bem (que não me acredito), uma semana em setembro para ir à Disney considerando falta justificada e não remunerada estão em cima da mesa, foram essas as minhas condições.

Ao stress do confinamento, a Bia tem de lidar ainda com o stress de concluir o 12º ano, preocupar-se com o exame (felizmente só o de português, livrou-se do de história) e da entrada na faculdade. Ela está a lidar com tudo aparentemente bem, mas é claro que mexe com ela. Por mais caseira que uma pessoa seja, ninguém aguenta!

Temos dado a nossa voltinha pelo quarteirão todos os dias, mas começa a saturar, a paisagem não muda, nem o silêncio.

Resta-nos fazer a nossa parte e rezar para que mais uma vez as decisões do governo no fim do mês sejam a pensar principalmente na saúde das pessoas. Sim sei bem que a economia blá-blá-blá, mas aí sim, logo se vê, nem que tenha de se voltar ao tempo de uma sopa ao jantar e de uma sardinha para três, como diz a minha avó, com saúde tudo se resolve.


1 comentário:

  1. Olá! Eu já começo a perder a noção dos dias que já estou em casa, tenho dias que tenho de parar para saber a que dia vamos...
    O que me vale é estar em tele-trabalho e ter alguns projectos extra esse trabalho que me vai mantendo activa. Mas estou definitivamente farta de estar em casa. Nem a volta ao quarteirão damos. Hoje deve ser o primeiro dia que talvez vamos sair de casa...
    Coragem!!

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

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