sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Odiozinho de estimação


Comprar roupa sempre foi aquela tarefa que eu adiiiiooo até não poder mais. Odeio! Mas quando abro o roupeiro e um dos dois pares de calças de ganga pendurado está quase a romper entre as pernas (o flagelo do costume), sei que não posso arrastar isso muito mais.

Eu já fui um tamanho 50 há uns belos anos atrás e contentava-me com roupa de velha que havia numa ou noutra loja. Servia? Ótimo! Não era lá muito bonito e muito menos na moda, mas pelo menos servia… ufa...

Também já fui um tamanho 42 há um par de anos atrás mas nem por isso a experiência era mais agradável. Sim, já havia um maior número de lojas onde podia atrever-me a entrar, mas era uma altura em que eu odiava o meu corpo, odiava olhar para ele nos espelhos dismórficos dos provadores e os olhos caiam única e exclusivamente nos meus monstruosos defeitos. Eu pegava única e exclusivamente na peça de roupa tamanho 42, era impensável subir um tamanho. Isso era um tremendo atentado à minha perda de peso e a culpa da roupa não me servir era única e exclusivamente do meu corpo parvo.

Hoje sou um tamanho 46. Mas se for um 48 ou um 44 também não tem mal nenhum. Consegui finalmente compreender que há simplesmente roupa que não foi desenhada para o meu tipo de corpo e isso não tem mal nenhum. É procurar outro modelo. Simples assim. Ajuda muito o facto de eu olhar para o meu corpo como um todo belo e não como um amontoado de defeitos horríveis.

Sim, o meu peito é descaído, mas alimentou a minha filha durante mais de um ano. A minha barriga é flácida, mas foi o ninho dela durante 9 meses, protegeu-a, alimentou-a, fê-la a partir de uma sementinha. As minhas coxas são grandes sim e molinhas, mas levam-me a tantos sítios bonitos. E os meus braços rechonchudos dão os melhores abraços.

Fazer as pazes com o meu corpo e aceitá-lo como ele é em vez de o odiar pelo que não é foi a melhor mudança que eu podia ter feito na minha vida. Olhar no espelho e ver a beleza total em vez de cada um dos defeitos em separado é de uma serenidade inigualável.

E isto não se trata de nenhuma ode à obesidade, trata-se sim de viver tranquila com o que na realidade sou e não estar constantemente na luta contra os quilos indesejados. Eu agora trato bem de mim pelo único prazer de tratar de mim e ouvir o meu corpo. Ele estava a suplicar por que eu parasse de o fazer encolher a um tamanho que ele não estava preparado para ter. Era uma luta 24/7 para perder 100 ou 200gr e o ódio e o sentimento de culpa por não conseguir mais estavam a consumir-me por completo.

É tão, mas tão importante ver mulheres reais por essa internet fora. É tão importante termos a noção de que não é preciso encaixar ali entre o 36 e o 42. Há corpos de todos os tamanhos e feitios e é urgente aprendermos a amar-nos de qualquer modo.

A minha saúde mental saiu a ganhar no meio disto tudo e no fim de contas a física também, as análises clínicas assim o indicam.

Isto tudo para dizer que acabei por comprar 2 pares de calças. Levei imensos pares 46 e 48 e houve dois que me fizeram sentir mesmo bem com eles vestidos. Era para trazer um terceiro, mas não estava 100% do meu agrado, portanto resolvi não me contentar com menos do que mereço. É certo que não consigo comprar roupa em todas as lojas, mas vejo que há uma preocupação crescente para a aceitação de vários tipos de corpos e há cada vez mais oferta para tamanhos maiorzitos.

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