segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Ela já não é só minha



Ao fim de 17 anos ela arranjou uma namorada. Uma das coisas que ela disse à miúda foi que era muito chegada aos pais.

A Bia sempre confiou em nós. Disse-nos aos 14 anos que achava que gostava de meninos e de meninas e disse-nos no ano passado que tinha chegado à conclusão que afinal gostava só de meninas. O nosso apoio sempre foi total para ela. Depois lá tratamos de lidar com os nossos sentimentos cá dentro, mas com a certeza do apoio total e absoluto.

A namorada tem a experiência oposta. Os pais descobriram e proibiram-na de namorar com raparigas. Que preferiam que a filha fosse uma assassina… Que a põem fora de casa… Que ela não pensa na felicidade dos pais… Incentivaram-na a namorar com um rapaz, para ver como está errada… Não consigo compreender como é que uns pais conseguem ter este tipo de comportamento com um filho e fico realmente triste que este seja o outro lado da história que afeta a minha filha.

Apesar de eu ter reagido com naturalidade desde o início, não nego que tive alguns demónios que tive de resolver na minha cabeça sozinha, mas nunca os projetei para a minha filha! Lutei para que ela não sentisse preconceito nenhum e agora vêm estas pessoas retrogradas fazê-la sentir isso na pele. Magoa-me muito…

Portanto, é um amor semi-proibído, para já, pelo qual estão ambas dispostas a lutar. E eu tenho tanta pena que a felicidade delas seja ensombrada por isto.

Mas os meus demónios agora são outros. É que ela deixou de ser só minha…

Ela é a minha melhor amiga e a minha maior companheira. A pessoa que me conhece como ninguém. Conscientemente, eu sei que na realidade isso pouco ou nada vai mudar, mas inconscientemente eu tenho um medo terrível de perder as nossas conversas, o nosso mimo, o nosso toque, o nosso encosto.

Eu, a supra-sumo do “sofrer por antecipação”, sinto que estou um pouco a sofrer com a síndrome de ninho vazio, apesar de ela estar aqui sentada ao meu lado no sofá, apesar de termos passado a tarde na praia as duas e apesar de nos últimos dias eu ter sido a primeira a quem ela pediu conselhos e colinho.

Porque a Sweet de 17 anos não dava a mínima abertura a que os pais soubessem a ínfima parte da sua vida. Eu sei que a Bia não é assim. Eu sei que a nossa relação está a anos luz da relação que eu tinha com a minha mãe. Eu sei que a Bia não vai deixar que a namorada se meta entre nós as duas. Mas inconscientemente continuo a transportar-me para os meus 17 anos e não a quero deixar escapar-me por entre os dedos.

Lá está, esta é outra coisa que eu tenho de resolver na minha cabeça, porque é só lá que existem estas dúvidas. Eu eduquei-a bem. Ela mal precisou, falou logo comigo, contou-me tudo o que se passava e pediu-me conselhos.

Tenho é de repetir mil vezes o que ela já me disse mais do que uma: nem eu sou a minha mãe, nem ela é eu. A nossa relação é imensa!

3 comentários:

  1. A vossa relação nunca vai ser afetada porque a Filha nunca vai deixar que isso aconteça. Vocês têm uma relação que muito poucas mães e filhas têm.

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  2. Tomara existirem mais mães assim. É de valorizar <3.
    Quanto à vossa relação, não se preocupem, não se vai perder, comecei a namorar há um ano, e a minha relação com a família/amigos é a mesma :).
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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  3. Com certeza ela nunca vai deixar ninguém meter-se ela e a mãe. E parabéns pela espectacular que és.

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